sexta-feira, 25 de maio de 2012

Biografia

Melanie Klein

(1882 - 1960)
A autobiografia de Melanie Klein, em poder do Melanie Klein Trust, é inédita. Entretanto, em 1983, um precioso acervo de dados a respeito da importante psicanalista foi obtido a partir de uma coletânea de cartas de família descoberta no sótão da casa de seu filho mais novo, Erich. Coube a seus biógrafos a constatação de que o conteúdo de tais cartas conflita com a autobiografia que, segundo Melanie, seria sua história oficial. Enquanto apenas uma carta de seu marido subsiste, a maioria das escritas por sua mãe e seu irmão parecem ter sido conservadas. Destas, mãe e irmão emergem como pessoas muito diferentes daquelas descritas por Melanie Klein.
Melanie Klein nasceu em Viena em 30 de março de 1882, filha de Moritz Reizes e Libussa Deutch. Moritz Reizes era um judeu polonês nascido em Lemberg (hoje Lvov), na Galícia. Por muitos anos foi um estudioso do Talmude, mas provavelmente influenciado pelo Haskalah, um movimento de emancipação judaica, rompeu com a ortodoxia religiosa e formou-se em medicina. Culto, fluente em vários idiomas, nunca conseguiu sucesso em sua carreira em virtude primeiro de ser judeu e, também, de origem polonesa, o que significava pertencer a uma classe desfavorecida dentro da hierarquia social judaica. Moritz foi casado duas vezes. O primeiro casamento foi desfeito quando ele contava 37 anos de idade. Aos 45 conheceu e casou-se com Libussa, também judia, de origem eslovaca, 24 anos mais moça que ele, descrita por Melanie em sua autobiografia como uma jovem culta, espirituosa e interessante. Depois do casamento, o casal estabeleceu-se em Deutsch-Kreutz, Áustria. Em algum momento no período entre o nascimento das duas últimas filhas, a família mudou-se para Viena, na esperança de melhorar sua difícil situação financeira. Em Viena, o Dr. Reizes trabalhou como assistente de um dentista e, para complementar sua renda, como consultor médico de um teatro de variedades.
O casal teve quatro filhos: Emilie (1876), Emanuel (1877), Sidonie (1878) e Melanie Reizes. Dentro da família, Emilie era a predileta do pai, Sidonie a mais bonita e Emanuel uma espécie de gênio. E embora a mãe tivesse em Melanie sua filha preferida, confessou-lhe que ela não fora desejada. Libussa amamentou os três primeiros filhos, mas Melanie teve uma ama-de-leite que, segundo ela, “me amamentava a qualquer hora que eu pedisse”. Ainda segundo Melanie Klein em sua autobiografia, “nessa época, Trub King ainda não fizera sua obra devastadora”, referindo-se ao pediatra neozelandês que defendia um regime alimentar severo para os bebês. Com relação ao pai ela diz:_”Não me lembro de alguma vez ele ter brincado comigo. Doía-me pensar que meu pai era capaz de afirmar com toda franqueza e sem consideração por meus sentimentos que preferia minha irmã mais velha, sua primogênita.” Desde cedo Melanie exibia uma notável autoconfiança. Na velhice dizia às pessoas que “não era tímida em absoluto” e, de fato, nunca se deixara passar despercebida durante toda a sua tumultuada e importante vida.
Melanie Klein sentia grande atração pela atmosfera cultural da família de sua mãe, filha de um rabino. Tanto o pai quanto o avô de Libussa eram muito respeitados tanto por seu saber quanto por sua tolerância. Melanie herdou da família a vontade de aprender e logo se tornou uma estudante ambiciosa, consciente de suas notas. Sonhava em estudar medicina e especializar-se em psiquiatria, o que nunca se realizou em virtude da situação financeira da família, agravada com a morte do pai em 1900. Ela chegou a estudar arte e história na Universidade de Viena, mas não chegou a graduar-se. O irmão Emmanuel foi seu grande mentor intelectual. Ele iniciou o curso de medicina que abandonou para se dedicar às artes. Era muito doente, portador de cardiopatia conseqüente a doença reumática, tuberculose e depressão. No final da vida tornou-se viciado em drogas. Emmanuel tinha para com suas irmãs um relacionamento com matizes incestuosos e, para com a família em geral, um vínculo marcado pelo êxito em provocar culpa e vitimizar-se. Para Melanie, ele teria sido um pai substituto, um companheiro íntimo e um amante imaginário e ninguém em sua vida jamais conseguiu substituí-lo. No período compreendido entre 1887 e 1902, Melanie Klein sofreu grandes perdas: a irmã Sidonie, em 1887, de tuberculose; o pai, em 1900, de pneumonia; o irmão Emmanuel, em 1902, de cardiopatia.
Em 1903, logo após completar 21 anos, ela casou-se com Arthur Steven Klein, engenheiro químico de caráter sombrio e tirânico de quem estava noiva desde 1899. Arthur era seu primo em segundo grau por parte de mãe e amigo de Emmanuel. Sua família residia em Rosemberg, na parte eslovaca da Hungria. Nada se sabe sobre a cerimônia. Em um texto intitulado “Chamado de Vida”, que seus biógrafos consideram autobiográfico, Melanie Klein escreve sobre o choque vivido por uma moça, Anna, na noite de núpcias: “E, portanto, tem de ser assim, a maternidade tem que começar com repugnância?” O casal passou a lua-de-mel em Zurique e se estabeleceu na cidade do noivo. Dois meses depois do casamento, Melanie descobriu que estava grávida e em 19 e janeiro de 1904 nasceu a primeira filha, Melitta. Melanie teria dito que estava gostando de ser mãe, mas sua autobiografia contém o seguinte trecho: “Lancei-me o máximo que pude no papel de mãe e no cuidado de minha filha. Sabia o tempo todo que não estava feliz, mas não havia saída”. Em 2 de março de 1907 nasceu Hans, o segundo filho, cuja gravidez foi marcada por um estado de profunda depressão. Em 1908 os Klein mudaram-se de Rosemberg para Krappitz; no ano seguinte para Hermanetz e em 1910 para Budapeste, o que possibilitou a convivência de Melanie com a parte da família do marido estabelecida naquela cidade, com a qual manteria uma sólida ligação afetiva.
Durante a infância dos filhos, Melanie Klein teve vários episódios de depressão e se afastou da família por longos períodos, para viagens de repouso ou para internação em clínicas especializadas. Durante tais ausências, sua casa e família ficavam a cargo de sua mãe, que se colocava em sua vida de forma intrusiva e autoritária. A mãe a via e fazia com que ela própria se visse como uma pessoa doente, neurastênica e incapaz. Mãe e filha mantinham entre si um relacionamento estreito e afetuoso, porém marcado por atitudes e sentimentos ambivalentes: amor e ódio, apoio e intrusão, liberdade e controle, dependência e autonomia.
O ano de 1914 foi marcado por grandes acontecimentos na vida de Melanie Klein. Em 1º de julho nasceu seu último filho, Erich Klein. Em 6 de novembro morreu sua mãe, Libussa. Além disso, aos 32 anos de idade ela encontrou-se com a psicanálise: leu o texto “Sobre os Sonhos”, de Sigmund Freud, e provavelmente iniciou sua análise com Sandor Ferenczi, buscando livrar-se da depressão. Para Melanie Klein, antes de se tornar uma profissão ou um interesse intelectual, a psicanálise foi uma experiência de crescimento e um caminho de cura pessoal.
O ano de 1918 foi importante para o início da carreira de psicanalista. Foi realizado em Budapeste o 5º Congresso Internacional de Psicanálise e Sandor Ferenczi foi escolhido para a presidência. Durante o Congresso, encantada, Klein ouviu Freud ler “Linhas de Avanço em Terapia Psicanalítica”. Já no ano seguinte, em julho, ela apresentou à Sociedade Húngara de Psicanálise seu primeiro artigo, “Der Familienroman in statu nascendi”, relato da análise de uma criança, depois do qual foi admitida como membro. O aspecto insólito do artigo era que descrevia a análise de Erich, seu último filho, cuja identidade foi encoberta nas versões posteriores. O objetivo era mostrar os resultados obtidos quando uma mãe cria o filho de acordo com conceitos psicanalíticos esclarecidos. A Sociedade de Psicanálise de Budapeste, considerada por Freud o principal centro de psicanálise da época, seria dizimada pouco tempo depois por razões políticas. A queda do Império Austro-Húngaro foi seguida por um regime comunista de duração breve que, por sua vez, deu lugar a um regime branco, o Terror Branco, francamente anti-semita, o que teve como consequência a expulsão dos psicanalistas judeus da Sociedade e sua dissolução. Assim, em 1919, Melanie Klein saiu de Budapeste com os filhos para estabelecer-se por um curto período em Rosemberg com os sogros. Seu marido, do qual se divorciaria em 1923, mudou-se por razões profissionais para a Suécia, onde permaneceu até 1937, novamente casado e depois divorciado. Morreu na Suíça em 1939.
Em 1921, Melanie Klein mudou-se para Berlim, também um importante centro tanto de atividade como de formação psicanalítica. Em 1922, aos 40 anos, tornou-se membro associado da Sociedade Psicanalítica daquela cidade. Em 1924, iniciou sua segunda análise, com Karl Abraham, como Ferenczi, um destacado discípulo de Freud. A morte precoce de Abraham (1925) privaria Melanie de seu analista e protetor, encorajando seus detratores a se declararem abertamente, mostrando desprezo pela ascendência polonesa, ênfase na falta de estudos universitários e ironia perante uma mulher que se pretendia mestra e, além disso, analista de crianças. Sem Abraham, ela ficaria exposta às críticas dos membros mais conservadores da Sociedade de Berlim, contrários, sobretudo, às suas idéias relativas ao atendimento de crianças, originais e ousadas. Tais idéias contrariavam o pensamento de Sigmund Freud e de sua filha Anna, a qual também se dedicava à psicanálise infantil. Enquanto Anna via a psicanálise numa perspectiva pedagógica, Melanie Klein mostrava-se determinada a explorar o inconsciente infantil. Para isso, introduziu uma modificação técnica essencial, substituindo a palavra pelo brincar, garantindo a maior proximidade possível entre a psicanálise de adultos e de crianças. Na época, o assassinato de Hermine von Hug-Hellmuth, por um sobrinho que havia sido seu paciente, também serviu para reforçar a oposição à psicanálise de crianças.
Numa postura diferente da adotada pelos alemães, os ingleses receberam a proposta de trabalho de Melanie Klein com respeito, curiosidade e entusiasmo. Ainda no ano de 1925, avisado de suas qualidades por James Strachey, o célebre tradutor e editor de texto da Standard Edition das Obras de Freud e um dos animadores do famoso grupo londrino de Bloomsbury, Ernest Jones a convidou a proferir palestras em Londres. Para essa cidade mudou-se no ano seguinte e ali viveu até o fim de sua vida, desenvolveu-se plenamente no âmbito profissional e fundou uma escola frutífera até os dias atuais. Em 1927, tornou-se membro da Sociedade Psicanalítica Britânica.
Em 1932, Melanie Klein publicou seu primeiro livro, a coletânea “A Psicanálise de Crianças”, ao qual fará referências ao longo de toda a sua obra. Mas, no âmbito afetivo, a década de 30 lhe traria duas experiências devastadoras: a morte de seu segundo filho, Hans, ao escalar uma montanha, e a deterioração definitiva de seu relacionamento com a primogênita Melitta, que se tornara analista e também ingressara na Sociedade Britânica. Na elaboração da perda de Hans, Melanie Klein escreveu o texto “Uma contribuição para a psicogênese dos Estados Maníaco-Depressivos” (1935). Em 1940, publicou “O Luto e suas Relações com os Estados Maníaco-depressivos”.
A mudança da família Freud de Viena para Londres, no final dos anos 30, em virtude da Segunda Grande Guerra, faria com que a Sociedade Britânica se dividisse ideologicamente em dois grandes grupos: o dos adeptos de Melanie Klein, que tinha à frente Susan Isaacs, Paula Heimann e Joan Rivière, e o dos adeptos do freudismo clássico, entre os quais figurava Melitta. Um terceiro grupo, composto por analistas independentes, não alinhados com nenhum dos dois anteriores, se formaria depois, num período marcado pela polêmica. Apesar da contundência dos debates, Klein e seu grupo permaneceram na Sociedade Britânica e na Associação Internacional de Psicanálise (IPA). Não foram expulsos, como viria a acontecer com Lacan na década seguinte, nem abriram uma dissidência contra Freud, como haviam feito Adler e Jung anteriormente.
Na verdade, a escola kleiniana expandiu conceitos freudianos e, em meio à turbulência da época, definiu um período de produção teórica exuberante. A década de 30 ficaria marcada pelo conceito de posição depressiva e a de 40 pela posição esquizoparanóide. Em 1946, Melanie Klein publicou um de seus textos mais importantes: “Notas sobre os Mecanismos Esquizóides”. No início da década seguinte o grupo kleiniano lançou o livro “Desenvolvimentos em Psicanálise”. Em 1957, Melanie Klein publicou “Inveja e Gratidão”, seu último livro com grandes novidades teóricas. O texto “Narrativa da Análise de uma Criança, no qual Melanie Klein trabalhou até poucos dias antes de sua morte, em 22 de setembro de 1960, seria editado logo em seguida.
Ao longo de sua obra, Melanie Klein formulou uma teoria que possibilitou a compreensão da vida mental primitiva e abriu novos horizontes dentro do campo da psicanálise. Para Julia Kristeva, que dedicou à psicanalista o segundo volume da coleção “O Gênio Feminino”, a clínica da infância, da psicose e do autismo, em que predominam nomes como Bion, Winnicott e Frances Tustin, seria inconcebível sem a inovação kleiniana. Melanie Klein seria em seu entender a refundadora mais ousada da psicanálise moderna. Segundo Luís Cláudio Figueiredo e Elisa Maria de Ulhôa Cintra, “se perguntássemos aos estudiosos da área qual teria sido, depois de Freud (1856-1939) e ultrapassando-o, o autor que mais contribuiu para que se compreenda o funcionamento psíquico inconsciente, não haveria dúvida: Melanie Klein, seguida de seus discípulos Wilfred Bion (1897-1979) e Donald Winnicott (1896-1971). A estranheza das formações do inconsciente e das primeiras experiências desafia todas as medidas de bom senso. Melanie Klein ensinou a por de lado a razão e o senso de medida para compreender o caráter autônomo e demoníaco das fantasias inconscientes e angústias.”
Referências Bibliográficas
  • Figueiredo, L. C.; Cintra, E. M. U. Melanie Klein. Estilo e Pensamento. São Paulo: Escuta, 2004.
  • Figueiredo, L. C.; Cintra, E. M. U. Melanie Klein. São Paulo: Publifolha, 2008.
  • Grosskurth P. O Mundo e a Obra de Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1992.
  • Kristeva, J. O Gênio Feminino. A vida, a loucura, as palavras. Rio de Janeiro: Ed. Rocco Ltda, 2002.
  • http://psicanalisekleiniana.vilabol.uol.com.br/biografia.html
Resenha elaborada por Regina Trindade, psicanalista em formação pelo Instituto Virgínia Leone Bicudo, da Sociedade de Psicanálise de Brasília. 
Fonte: Site da FEBRAPSI

Obra


Inveja e Gratidão - Neste livro a autora introduz a sua teoria da inveja primária. Descreve o conflito entre a inveja e a gratidão infantis e investiga a sua influência nos desenvolvimentos posteriores.
(fonte: livraria cultura)

Amor, culpa e reparação - Este livro apresenta o trabalho e as ideias de Melanie Klein entre 1921 e 1945. Os primeiros artigos mostram sua preocupação com o impacto das ansiedades do bebê no desenvolvimento da criança. Ela traça as suas influências sobre a criminalidade e a psicose infantil, a formação de símbolos e a inibição intelectual, assim como o desenvolvimento inicial da consciência. Os últimos artigos, sobre a psicogênese dos estados maníaco-depressivos, representam uma contribuição para a compreensão do desenvolvimento do bebê na segunda metade do primeiro ano de vida. No artigo final, sobre o complexo de Édipo, Klein desenvolve as suas teorias sobre os primeiros estágios do desenvolvimento do bebê.
(fonte: livraria cultura) 

A psicanálise de crianças - Em seu consultório particular, onde atende crianças e pais há mais de três décadas, a psicanalista argentina Alba Flesler não vê os pequenos como seres imaturos. Para ela o objeto da psicanálise não é a criança, nem o adulto, nem a conduta, nem a personalidade do paciente e sim o sujeito – um sujeito que não tem idade, mas tempos. “Porque essa distinção entre crianças e adultos parece limitada, prefiro distinguir tempos do sujeito, que de forma alguma se reduzem à cronologia ou à idade”, explica a autora.

Esse modo de pensar a criança traz importantes consequências para a clínica, tanto na concepção do sintoma quanto no ato do analista. É o que Flesler mostra nesse livro, no qual detalha, por meio do relato de casos, o quanto as contribuições teóricas de Lacan foram decisivas para a prática psicanalítica com crianças. A autora reflete ainda sobre as potencialidades e os limites dos brinquedos e dos jogos apresentados aos pacientes durante as sessões e sobre o momento adequado para chamar os pais a dividir o divã com o filho.
(fonte: site da editora Zahar) 

Narrativa da análise de uma criança - Todas as fases do tratamento de um menino, que pela excepcional sensibilidade das interpretações da analista, serviu a ela de modelo para seu procedimento analítico. 
(fonte: site da editora Martins Fontes)


Você encontra alguns desses livres aqui.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Retorno a Freud: a play technique e o Fort-da



Logo no início do texto “Além do Princípio do Prazer”, Freud conta uma brincadeira, observada por ele, realizada por uma criança de 1 ano e meio. A criança brincava com um carretel de linha e, resumidamente, jogava o objeto para fora do seu campo de visão e depois o resgatava. Conhecida por Fort-da (referência a “foi-se” e a “está aqui”) esta brincadeira leva Freud a alguns conceitos cruciais da teoria psicanalítica. No exemplo dessa criança, a associação feita é com o aparecimento e desaparecimento da mãe. A criança passa de passiva para ativa por ter o controle de decidir quando a “mãe” (o brinquedo) desaparece e quando retorna. Existe uma satisfação nessa mudança de posição e também no retorno dessa “mãe”, mas não é só isso. Por que a criança se diverte na primeira parte da brincadeira, quando simboliza o desaparecimento materno? Através desse questionamento Freud chega aos conceitos de repetição, ao Das-ding e à pulsão de morte. 

Em nossas pesquisas,  vimos que Melanie Klein chega a sua ténica do brincar após as leituras de Freud sobre o brincar de uma criança com o carretel e por isso recomendamos que vocês retornem a este texto de Freud para reforçar alguns conceitos e ampliar este estudo. Boa leitura.

Glossário - posição depressiva

Posição depressiva

Definição:
Termo introduzido por Melanie Klein para in­dicar um ponto no desenvolvimento de relações objetais em que o bebê reconhece que as imagens de mãe boa e mãe má, com as quais esteve se relacionando, se referem à mesma pessoa (subentendendo-se estar na segunda metade do primeiro ano de vida).
Confrontado com sua mãe como uma pessoa total, ele já não mais pode prosseguir como antes. O funcionamento anterior tinha encerrado uma atribuição e direcionamento de seus sentimentos negativos à mãe negativa, assim protegendo a mãe posi­tiva contra aqueles. Agora deve encarar o fato de que seus sentimentos hostis e agressivos e seus sentimentos amorosos também abarcam a mãe até então sempre totalmente positiva (isto é, de que ele tem sentimentos ambivalentes).
Por seu lado, isso o confronta com o medo de perdê-Ia pelo exercício de sua própria destrutividade, e pela culpa de feri-Ia e, sobretudo, com uma preocupação crescente com o bem-estar dela. Nesta última consideração, a posição depressiva é o precursor da consciência em geral e da preocupação por outras pessoas em particular. Daí, o nome dado por Winnicott à posição depressiva foi "o estágio de preocupação".
Simultânea a esta restauração de um objeto dividido, também existe uma integração de aspectos da própria personalidade, ante­riormente experimentados como bons ou maus. Por exemplo, partes boas da personalidade podem ter sido dissociadas para protegê-Ias de partes más ou de um meio ambiente perseguidor.
A posição depressiva assim é chamada porque, pela primeira vez, fantasias de perda da mãe precisam ser confrontadas a um nível pessoal, um processo análogo ao luto e, portanto, incluindo a possi­bilidade de depressão. Quando na posição depressiva, a qualidade da angústia muda, de sua condição de ser originalmente um medo de ataque vindo de fora, para um medo de perder alguma coisa que torna a vida vivível e mantém alguém vivo. Desde cedo experiências de perda podem continuar sendo fantasiadas através de ilusões de onipotência. Sob este prisma, uma subseqüente depressão na idade adulta pode ser considerada originária de uma deficiência no lidar com uma angústia depressiva na tenra infância. A posição de­pressiva é uma barreira ao desenvolvimento, que deve ser vencida. A consecução disso é um marco de desenvolvimento.
Embora a posição depressiva seja contrastada com a posição esquizoparanóide (em que a personalidade e o objeto estão divididos), também existe um grau de movimento oscilatório entre as duas, e, na vida adulta, uma evidência da presença de ambas as posições normalmente pode ser encontrada.
A Psicologia Analítica (especialmente a escola do de­senvolvimento; ver Samuels, 1985a) comenta de outra forma a po­sição depressiva propondo que sua consecução pelo final do primeiro ano de vida pode ser considerada uma das primeiras conjunções de opostos a ser obtida. Este ponto de vista possui a vantagem de ligar a perspectiva do desenvolvimento com a derivada da fenomenologia do self. Devido à natureza intencio­nal de grande parte do funcionamento psíquico, a agressividade do bebê pode ser encarada como agindo a serviço da individuação.
Como a aceitação da inevitabilidade de sentimentos agressivos é uma parte vital da posição depressiva, está se verificando uma integração da sombra. Mais ainda, o morder, na agressividade oral, pode ser considerado uma tentativa precoce para discriminar opostos (bebê e mãe, mãe e pai). Tal diferenciação é vista por Jung como uma condição prévia para subseqüentes conjunções de opostos.

Dica de leitura


Quer uma dica barata e muito bacana? O Livro Psicanálise com Crianças, da  Teresinha Costa. O grupo gostou bastante da leitura e recomenda para os interessados. Custa R$19,90 na Livraria Cultura e você também encontra a cópia no CA.

Sinopse da Livraria Cultura: Este livro apresenta uma introdução aos grandes momentos da história da psicanálise infantil, através das contribuições de Anna Freud, Melanie Klein, Winnicott e Françoise Dolto.

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Dica de site



A Federação Brasileira de Psicanálise é ligada à IPA e lá vocês podem encontrar muitos artigos que têm referências da escola inglesa de psicanálise. Para visitar o site, clique aqui.

Glossário - Objeto "bom" - objeto "mau"

Objeto "bom" - objeto "mau"

Definição:

Tema central da teoria psicanalítica de Melanie Klein. "Bom" e "mau" são empregados entre aspas para acen­tuar o caráter fantasmático das qualidades do objeto. Designam os primeiros objetos pulsio­nais, parciais ou totais, que aparecem na vida fantasmática da criança. As qualidades de "bom" e de "mau" são atribuídas ao objeto em função do seu caráter gratificante ou frus­trante, mas principalmente em razão da proje­ção sobre eles das pulsões libidinais ou destru­tivas do sujeito. O objeto parcial e o objeto total poderão ser clivados ou cindidos em um "bom" e um "mau" objetos, e esta cisão cons­titui o primeiro modo de defesa contra a ansie­dade. (Laplanche)

Dica de leitura



Nosso grupo usou este livro para entender melhor as divergências entre Melanie Klein e Anna Freud. Casos vocês queiram ter acesso a este capítulo, ele está xerocado na Bel. 

Sinopse da Livraria Cultura: Este livro traz os seguintes tópicos - Análise da fobia de uma criança de cinco anos; Nascimento de uma técnica; Duas correntes em psicanálise de crianças; A psicanálise de crianças na Argentina; A entrevista inicial com os pais; O consultório, o material de jogo, a caixa individual; Problemas técnicos que surgem do seu uso diário; A primeira hora de jogo; Seu significado; Entrevistas posteriores com os pais; Casos clínicos; Conflitos na elaboração do luto; Fragmentos de casos clínicos; Surgimento de ansiedades anal-sadomasoquistas enquistadas por fracassos na lactância; Grupos de orientação de mães; Novas perspectivas na terapia.


Glossário - cisão do objeto

Cisão do objeto

Definição:
Também denominada clivagem do objeto ou ainda splitting do objeto. Segundo Melanie Klein, a cisão do objeto é um meca­nismo do ego que precede, e em certa medida determina, o tipo de repressão. Cons­titui a defesa mais primitiva contra a ansiedade. O objeto, alvo das pulsões eróticas e destrutivas, cinde-se em objeto "bom" e objeto "mau", que terão desti­nos independentes no jogo das introjeções e das projeções. O termo é empregado de vários mo­dos por diferentes autores: como a contrapar­tida de síntese na formação da estrutura psíqui­ca, como uma descrição das suborganizações patológicas coexistentes da estrutura psíquica, como um modo de organizar a realidade externa com base no fato de as experiências especí­ficas anteriores terem sido "prazerosamente boas" ou "dolorosamente más", e como um mecanismo de defesa contra sentimentos ambi­valentes para com um objeto.
Referência: (Lichtenberg, J.D. & Slap, J.W. - Journal of the American Psy­choanalytic Association 21, 1973)

A CRIANÇA E A PSICANÁLISE: O “LUGAR” DOS PAIS NO ATENDIMENTO INFANTIL

Resumo: Este artigo relata o caminho seguido pela Psicanálise infantil desde a primeira tentativa de tratar uma criança por meios analíticos realizada por Freud com o pequeno Hans. Expõe os trabalhos de Anna Freud e Melanie Klein, cujas obras diferem diametralmente sobre a possibilidade de estabelecer com a criança uma relação puramente analítica, e os trabalhos de Françoise Dolto e Maud Mannoni que centram o tratamento na escuta do inconsciente e incluem a posição parental. A partir das linhas de trabalho destas psicanalistas procura refletir sobre a questão de saber se o psicanalista infantil deve ou não receber os pais, ou se estes devem ou não aparecer na cena analítica, valendo-se do suporte teórico da Psicanálise francesa de inspiração lacaniana.

Descritores: Psicanálise da criança. Psicanálise. Tratamento. Crianças. Família.

PARA LER O ARTIGO NA ÍNTEGRA CLIQUE AQUI

AUTORA: Léia Priszkulnik, do Instituto de Psicologia - USP

Psicanálise com crianças: Quando o brincar é dizer

Resumo: Esse trabalho discorrerá acerca de um estudo teórico, uma revisão bibliográfica sobre o brincar e sua função no processo psicanalítico da criança. Será apresentado em dois capitulos. O primeiro capitulo fará alusão a história da psicánalise com crianças, abordando três autores. Começando com Freud e o inicio da abordagem da criança pela psicanálise. O segundo autor a seu abordado é Anna Freud com sua visão pedagógica da psicanálise e em seguida Melanie Klein com sua técnica do brincar é estuda. No segundo capitulo será trabalhado o brincar e sua função na prática psicanalítica com crianças Finalizando o trabalho serão feitas considerações finais e a conclusão.

PARA LER O ARTIGO NA ÍNTEGRA CLIQUE AQUI

AUTORA: Katlyn Regina Lopes, graduada em psicologia.

Glossário: Posição esquizo-paranóide

Posição esquizoparanóide

Definição:
Termo introduzido por Melanie Klein para indicar um ponto no desenvolvimento de relações objetais antes de o bebê haver reconhecido que as imagens da mãe boa e da mãe má, com as quais esteve relacionado, se referem à mesma pessoa.  Conquanto a posição esquizoparanóide seja contrasta­da com a posição depressiva (em que são curadas rupturas na perso­nalidade e no objeto), também existe um movimento oscilatório entre os dois e, na vida adulta, normalmente se pode encontrar uma evi­dência de ambas as posições.

No esquema de desenvolvimento, a posição esquizoparanóide ocorre não importa qual tenha sido o estado de identidade primária que possa ter existido. O "split", ou divisão, a característica da posição esquizoparanóide, não é a mesma coisa que uma "desintegração" do self primário. Nesta última, as várias divisões trazem consigo uma exigência de totalidade e tendem a atuar em direção a uma intensificação da personalidade.

A qualidade da angústia nessa circunstância é paranóide (isto é, o medo do bebê, talvez, de perseguição e ataque). Seu meio de defesa é separar de si o objeto (isto é, uma manobra esquizóide). O bebê divide a imagem da mãe de modo a ficar com as boas e controlar as más versões dela. Também se fende dentro de si pró­prio em virtude da intensa ansiedade causada pela presença de sen­timentos aparentemente irreconciliáveis de amor e ódio. Sugeriu-se que a capacidade de resistir a essa divisão é um requisito prévio para qualquer síntese posterior de opostos. Porém, como enfa­tizava Jung, em primeiro lugar estes devem ser diferenciados; isto é, separados um do outro.

A posição esquizoparanóide reflete um estilo de consciência que Jung designava por "heróico", pelo fato de que o bebê tende a se comportar de uma maneira superiormente determinada e orientada para o objetivo.

Dica de leitura



O Livro da Hanna Segal sobre a obra de Melanie Klein é recomendado para quem quer conhecer melhor a obra da psicanalista e foi bastante utilizado em nosso seminário. Como tem um preço acessível, indicamos para vocês.

Sinopse da livraria cultura: Esta edição, tradução da segunda edição inglesa, revista e aumentada pela autora, trata de uma síntese dos principais tópicos da teoria e prática psicanalíticas elaboradas por Melanie Klein, culminando com uma apreciação original do funcionamento global da psique humana. Neste estudo, Hanna Segal - um dos nomes mais expressivos da escola kleiniana - reúne clareza didática e rigor científico à exposição do assunto, enriquecendo o texto com algumas descrições de sua fecunda experiência clínica.

Na livraria cultura o livro sai por R$29,00
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Cordel sobre Melanie Klein

Um vídeo muito bacana elaborado por alunos da Unifor. Muita criatividade. Parabéns ao grupo que produziu.

Descrição: Estudo sobre a vida e obras de Melanie Klein, elaborado pelos alunos da Unifor -Psicologia 2011.1, na forma de cordel (elaborado pelo cordelista Euriano Sales, em cima do texto dos alunos), apresentado em sala de aula, em 26/05/2011.
Profª. Sabrina Matos
Equipe: Ana Celma Landim, Gabriel Uchôa, Fernando Martins, Ícaro Diógenes, Iury Thé, Juanita Maia, Jussara Montenegro, Kariny Bezerra e Ruth Nogueira.